
CHANTAGEM DE MÃE
Uma razão por que Deus criou a mulher foi evitar que o homem vivesse só (Gn.2:18). Deus conhece as necessidades humanas e sabe que todas as pessoas gostam de companhia. Outra razão foi a criação da família. Eva foi criada para ser a complementação física, emocional, intelectual, afetiva e espiritual de Adão. Portanto, Deus criou a mulher para ser ajudadora, companheira idônea, esposa e mãe.
Em Gênesis 2:24 lemos “Por isso, deixará o homem a seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher e serão uma só carne”. Neste versículo existem três verbos muito importantes: deixar, unir e ser. Eles são a base para um casamento feliz. Se todos os casais alcançassem o significado destes três verbos, as dificuldades, conflitos e problemas entre genros, noras e sogros, seriam bem menores e de mais fácil solução.
Em primeiro lugar, o rapaz e a moça têm que deixar pai e mãe. Eles precisam estar preparados para deixar física e psicologicamente suas famílias para formarem o seu próprio lar. As implicações desse deixar são muitas, mas a principal delas é a consciência de que agora o jovem casal está desligado do seu lar original para formar uma nova família. Deixar pai e mãe não significa abandonar, esquecer, mas significa que agora os dois jovens já estão amadurecidos para viverem sua independência, aptos para assumirem suas próprias diretrizes, sem depender dos pais.
O segundo verbo é unir. Unir quer dizer ligar, cimentar. A massa que o construtor usa para colocar os tijolos na construção tem que ser bem feita, equilibrada com cimento, areia, água e terra para formar uma liga eficiente capaz de juntar os tijolos sem o perigo de ver a construção destruída. A união entre o casal deve ser feita de bom material para que o novo lar seja bem construído. A liga dessa massa é complexa. Muitos elementos entrarão nela: atração física, valores morais e espirituais, nível sócio-econômico, intelectual, etc. Esses elementos devem ser levados em conta para que haja equilíbrio e o casamento não se torne em jugo desigual.
O terceiro verbo é ser – serão uma só carne. Aí está a complementação física das diferenças individuais. Ser uma só carne refere-se à união sexual, cuja experiência é reservada somente para o casal que escolheu deixar pai e mãe e unir-se até que a morte os separem.
Para os pais é fácil aceitar que o jovem casal se una e que seja um só corpo, porém é difícil aceitar que os filhos deixem pai e mãe. Aí começam as dificuldades, pois isso significa sair de casa, deixar o lugar em que nasceram, cresceram, onde aprenderam a conviver, amar o próximo e ir para longe, viver independente, quebrar laços, etc. É uma experiência diferente e difícil para quem sai e para quem fica. É um desligamento profundo e dolorido para ambos.
Dizem que na vida temos que cortar o cordão umbilical quatro vezes. São quatro separações que mais cedo ou mais tarde, todos enfrentam. São situações difíceis e sofridas. O primeiro desligamento acontece na hora do nascimento quando a criança é separada da mãe pelo corte do cordão umbilical. É uma separação física e psicológica. Significa que agora a criança é um indivíduo pronto para ser independente. Começa a respirar pelos próprios pulmões, a lutar pela sobrevivência, clamando pelo alimento, aconchego, afago, etc., para satisfazer suas necessidades físicas e emocionais. A partir desse momento ela não precisará obrigatoriamente, da mãe que a gerou para sobreviver, pois muitas crianças que perdem suas mães ao nascer sobrevivem sob os cuidados de uma mãe substituta. O próprio meio ambiente vai ajudar a criança a se tornar cada vez mais independente, à medida que ela se desliga psicologicamente da mãe.
O segundo corte do cordão umbilical acontece quando a criança vai para a escola. Ah! O primeiro dia! Muitas vezes é mais difícil para a mãe do que para a criança essa separação. É mais fácil adaptar a criança do que a mãe à escola.
O quarto corte do cordão umbilical, deixamos o terceiro para frente – ou a quarta separação acontece quando o indivíduo morre. Dessa ninguém pode fugir e devemos estar preparados para ela.
A terceira separação –que é a que nos interessa no momento – ocorre no casamento dos filhos, que também é muito dolorida, especialmente para certas mães. Embora algumas mães aceitem o casamento de forma positiva, tranqüila, outras há que mudam seu comportamento. Geralmente, as mães superprotetoras, ou muito possessivas são as que têm mais dificuldades e as que dão mais trabalho nesse desligamento ou nessa separação. Elas também têm dificuldades em aceitar o primeiro corte do cordão – são muito apegadas aos filhos, sufocando-os de atenção, alimentação, cuidados, carinho, etc. Elas quase impedem que os filhos tenham liberdade para viver suas experiências infantis, prejudicando, assim, o desenvolvimento total do filho. Estão presentes demais na vida das crianças, fazendo tudo para elas, impedindo, de certo modo, o desenvolvimento de sua adaptação ao mundo e do seu potencial criativo.
As crianças superprotegidas tornam-se adultos com maior dificuldade para enfrentar a vida e ficam mais dependentes das mães. São tímidas e se sentem incapazes de enfrentar situações novas; podem desenvolver um autoconceito negativo e demonstram baixa auto-estima. São inseguras e após o casamento estão sempre voltando para pedir opiniões e conselhos aos pais e dificilmente alcançam independência. Muitas vezes se casam mas não saem da casa dos pais. As mães superprotetoras podem se tornar sogras de difícil convivência com as noras e genros. Começam por achar que ninguém é suficientemente bom para se casar com seu filho (a) – a sua eterna criança. Acham que ninguém poderá cuidar dele (a) como a mamãe.
Assim como existem mães superprotetoras existem filhos acomodados, que é o produto final da superproteção. Esses filhos gostam de viver à sombra dos pais. Acostumaram-se a ser dependentes e posteriormente têm dificuldades para cortar as amarras que os prendem à família e se tornam mais facilmente presas das chantagens emocionais que freqüentemente ocorrem com muitos casais, dificultando seu ajustamento conjugal e trazendo problemas no relacionamento entre genros, noras e sogros.
Numa pequena pesquisa levada a efeito com pessoas entre 21 e 52 anos, com 3 meses a 24 anos de casamento sobre o conceito de chantagem emocional e tipos de chantagem que conhecem, obtivemos alguns resultados interessantes:
– “É uma pressão psicológica que faz com que a gente se sinta culpada ou com pena da situação criada”
– “Tentar obter a atenção do filho ou filha encarando a nora/genro como um concorrente que está roubando o filho (a) e para conseguir a atenção ‘apela’ literalmente, utilizando argumentação emocional.
– “Manifestação de um sentimento provocado pela suposta perda de um filho (a) que se casa”
– “Quando uma pessoa age de forma a manipular terceiros para conseguir o que quer, procurando atingir o lado afetivo destes”.
Os tipos de chantagens mencionadas nas pesquisas foram muitos e variados. Sabemos que as mães que fazem uso destes tipos de chantagem sabem exatamente o que dizer no momento certo, que vai ajudá-las a atingirem seus objetivos: chamar a atenção dos filhos para si mesmas, deixando-os ao mesmo tempo com um tremendo sentimento de culpa.
Esses tipos de chantagem emocional são geralmente, feitos num tom queixoso, lamuriento, cheio de auto piedade e às vezes com choro convulsivo: “Já estou velha e inútil”; “O que eu falo ninguém ouve”; “Você não tem tempo para mim”; “Eu sei que incomodo muito”; “Infelizmente sou obrigada a viver aqui, não tenho mais a minha casa”; “Ninguém me visita, esqueceram de mim”; “Passou perto daqui e não foi capaz de chegar para me ver”; “Depois que casou não veio mais aqui”; “Você não me ama mais”, “Nunca mais vou à sua casa”; “Não falo mais com você”; “Se não vier almoçar aqui em casa domingo, não precisa vir mais”; “Eu faço melhor do que ela” (comparando-se com a nora); “Ela não gosta de você”; “Você me abandonou”; “Ela não pode ser melhor do que sua mãe”; “A velhice é o fim da linha”; “Filhos depois que se casam não precisam mais da gente”; “Sou muito doente”; “Nunca tive mãe, sei o que é ter madrasta e você não dá valor mim”; “Eu sei que nenhum dos meus filhos gostam de mim”; “Não fui porque não me convidaram”;”Fui de ônibus ao médico porque ninguém pode me levar de carro”, etc, etc,
Existem também estes outros tipos que foram mencionados na pesquisa:
– Fingir-se doente quando quer alguma coisa;
– Constantemente se diz só e abandonada e dispensável aos filhos;
– Dar presentes em troca de afeto;
– Chorar quando o filho a visita;
– Dizer que não consegue resolver seus problemas, porque antes era o filho que os resolvia;
– Simular doença exigindo a presença do filho (a);
– Pedir ajuda para todos os problemas que antes resolvia sozinha;
– Fazer dengo, chorar, dizer que é infeliz;
– Fazer comentários insinuantes, dar piadas e indiretas;
– Chorar na presença do filho e dizer que sente muita saudade;
– Sentir-se deixada de lado porque ninguém mais tem tempo para ela.
Estes são alguns tipos de chantagem que muitas mães costumam fazer com seus filhos, noras e genros para conseguirem um pouco de atenção. É comum acontecer que muitos filhos quando se casam deixam realmente os pais e não se preocupam mais com eles. É claro que os pais não deixaram de amar os filhos porque eles se casaram. Portanto, deve haver um equilíbrio tanto da parte dos pais quanto dos filhos para que a atenção, as visitas, o respeito, o amor, a consideração continuem depois do casamento dos filhos. Se houver um equilíbrio, as mães não precisarão recorrer à chantagem emocional para terem de volta a atenção dos filhos.
Deve haver por parte dos pais um preparo psicológico para o terceiro corte do cordão umbilical, sabendo que a saída do lar é necessária para o crescimento e a independência dos filhos. E os filhos devem se preparar também para saberem que um dia eles, do mesmo modo, serão pais e terão que passar pelas mesmas experiências pelas quais seus pais estão passando. E, quem sabe, talvez utilizem das mesmas chantagens emocionais para obterem atenção dos seus filhos.
Bibliografia:
Sua Família pode ser melhor – Jaime Kemp
Mulher controlada pelo Espírito – Beverly LaHaye
“Mulher Cristã hoje” – Maio de 1994
Ilma Vieira Silva – Psicóloga e professora universitária